domingo, 26 de agosto de 2007

Crônica para Casa Amarela

Eu e o Grilo Falante

Hoje termina o Festival de Literatura. O meu amor por Casa Amarela não me permite outra coisa nessa manhã de domingo, senão dar - lhe de presente uma crônica-fábula:

Eu: sempre tive certeza de que em outras vindas do espírito na terra, eu fora uma baleia. Ainda me sinto como uma às vezes. São as criaturas mais evoluídas que tenho conhecimento. Falo sem qualquer modéstia ou ressentimento. Ser evoluído tem um lado com o qual não, exatamente, a gente pode lidar. Digo isso, porque, não sei se já ouviu falar, elas têm uma enorme capacidade de comunicação dos bandos. Ainda assim, vez por outra, uma delas usa seu “persuasivo” método de encalhar na área, na sua revolta muda de pedregulho com os humanos.

Aí, diante de uma tela com luz, e pergunto, você se comove com a notícia? Porque eu logo percebo minha melancolia costumeira se agigantar de um jeito de não deixar espaço para mais nada, senão de sufocar em silêncio, ou me dar de um jeito impulsivamente repetitivo: “toda vez que uma baleia vem até à praia, tenho certeza que surpreendeu – se com o nada que existe depois do mar. Bateu na areia e seu destino agora é virar pó por vir atrás de algum humano ainda sensível em fazer bem ao planeta”.

Conheci o Grilo Falante, enquanto Baleia. Estava encalhada em algum espaço de tempo do meu destino. As coisas simplesmente haviam parado. E eu não dava conta nem importância de faze – las moverem – se novamente. Vi o Grilo agitado num canto de tanto tédio. Tédio profundo. Descrença, apatia e desamor por dentro. Exasperação, angústia, pressa, compulsão por fora.

Estava mesmo grilado o tão Grilo Falante. E seco, em suas perninhas sonoras que ao bater uma à outra estalavam um barulho crac-cínico-embrulhado. Desespero. Com algum alcance da felicidade nisso. Mesmo que apenas em cenários secos de eximir lavouras e destruir belas plantações verdes. Não, o Grilo não arriscaria sem o invólucro de uma baleia conhecer o mar...

Parece que a aventura de também acender fogo no interior de um animal tão grande sem que as labaredas fizessem qualquer estrago, também impressionou muito o Grilo. Despiu – se da cartola, meio fraque e bengala. Ao menos. Agora, usa roupas da cor do mar mediterrâneo e até calça sandálias. Logo, ao invés de viver aos vôos de folha em folha, arriscará suas delicadas e finas patas tão sequinhas, ai de mim, na areia.

O Grilo: perdi também a compulsão em falar? Bom, isso já não é bom sinal para você. Grilo precisa parar de perguntar a si mesmo se vai dar para crer numa condição de mudança. Ora, se não são insetos também a lagarta, a cigarra e a esperança? O primeiro passo é afastar a sua condição de Grilo do que existir em semelhança com a barata. E, na verdade, não existe nenhuma. Só é preciso reconhecer que nessa convivência com a baleia, o primeiro aprendizado foi o do espaço.

Sim, talvez essa seja uma das maiores – sem ironias – explicações para a condição evoluída da baleia. Somente um gigante aprende o cuidado de lidar com o espaço. Mesmo adiam até o momento de entender morrendo na areia.

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