quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Estréia - Yellow House news


Editoral : estréia do Yellowhouse news, porque como os baianos, jornal assim não nasce...

Moradora de Aldeia, ainda com cabelos castanhos lisos caindo nos olhos, ligeiramente estrábicos, tinha uma vizinha chamada "Claudiah". Era chamada assim pelo irmão e pais chilenos. Morava há uns mil e duzentos metros de mim. Bem pertinho. (É caríssim@s, morar em sítio é assim: qualquer porteira dá mais de "1/2km"). Ainda bem que com perninhas de siriema, ou gazela - como apelidou Mário Hélio, na época da Unicap - não levavam minuto pra chegar lá. Andava tipo, A "20km"! e isso na canela até que vale a conta.

Então... Cláudia tinha uma máquina de escrever, dessas portáteis, claro. Os distint@s façam aí os cálculos. Eu era menina até 1980/84. O pai de Cláudia, um intelectual - como dizia o meu. Professor universitário, já tinha trocado a 'querida hemingway" por uma "dessas mais versões mais modernas... um máquina eletrônica!

E os pais de Cláudia e Francisco, como os meus, trabalhavam muito. Às vezes só faziam parte da paisagem, lá pra's sete horas da noite. Ela levava a "baby" para gente "brincar".

Era um modelo chamado "Hermes Baby". Criado por Giuseppe Preziosa. (E "preziosa" era a própria!). Chegava por volta dàs três da tarde, lá na "granja". Curiosamente, é assim que a minha família chama a chácara até os dias de hoje, embora não haja por lá um pé de galinha.

Mas voltando a Preziosa. Aquele tipo de portátil foi "gerado" mais de um século depois, que Moise Paillard fundou sua companhia (em 1814). Fabricava caixinhas de música até se juntar à família Thoren e revolucionar o mercado daquela Era Industrial, com fonógrafos, gramofones, motores de relógios e... máquinas de escrever!

Me diz o senhor "Google" que data de 1935 o lançamento da Preziosa por decisão da Paillard. A "querida" - e aqui a palavra se emprega em tom diferente do que sai das bocas fofas - se tornaria a mais conhecida máquina de escrever da sua época batizada como "Hermes Baby". Reza a lenda, dessas de verdade, passou a ser adotada - e aqui a palavra cabe bem - por figuras como John Steinbeck e : Ernest Hemingway! Tá explicado porque ganhou, por aqui, o apelido de "hemingway".

Tínhamos uma tarde toda de trabalho, até escurecer na "torre da piscina" (na verdade uma caixa d'água que minha mãe, muito romântica e estilista, transformou na Torre de Rapunzel. Aliás, como se trata da visão mais evidente no cenário da chácara, o que minha família chama de "granja", a vizinhança identificou "da chácara com uma torre". Muito mais bacana, não? Mas é sempre assim, a gente tem muita distância com as palavras. E aí vale o provérbio: "palavras loucas, orelhas moucas". A gente vai deixando pra lá o significado mais "na ponta dos dedos" dessas pérolas e depois precisa de uma montanha de livro para ir buscar o melhor uso.

Bom, mas voltando à torre de Rapunzel... o lugarzinho reservado do hectar bem planejado pelos meus pais é o mais inspirador do lugar. A construção tem a escada de ferro em caracol e janela em arco e vista para a piscina. Lá, os primeiros momentos com a Hemingway, (eu nunca chamei de Hermes ou Baby! e só agora virou Preziosa), foram pequenos contos de meninas e suas "asas de borboleta". Não era para menos, uma vista daquela altura!. Mas Cláudia, a mais pramática, não queira "perder tempo" porque haviam "muitas notícias" (e é?) esperando para ser contadas pelas duas meninas "batutinhas", foi o que disse o pai de Cláudia... (Vixe, agora enchi os olhos d'água - recupero).

Pois bem, decidimos criar o jornal:

"As Batutinhas". Yes!!!

Meninas com uma varinha cheia de teclas na mão. Nós! As maestrinas. Nossa missa era simples: informávamos no vespertino, os locais das partidas de vôlei do final de semana, das reuniões da Associação da Chã da Peroba e ainda criticávamos em "reportagem extra" a velocidade com que passavam pelas ruas de barro, naquela época ainda esburacadas por qualquer chuva fina, dos caminhões, estes sim, carregados de penosas, da verdadeira granja da localidade, "Sítio dos Pintos". O irresponsável e egoísta empresário daquela localidade era invariavelmente vaiado por nós, crianças da Chã, quando passava de nariz para cima no seu carro também apressado.

O jornal teve vida longa. Uns seis meses! Cláudia e Eu começamos a caprichar mesmo na "diagramação" e nossos pais passaram a reclamar da quantidade de xérox que tinham que bancar. Chegou a 50 exemplares! Yes!!! Para minha tristeza, e alegria de Cláudia que tinha muita saudade do Chile, o jornal teve que ser interrompido pela viagem de volta pra casa.
Cada uma de nós ganhou seu destino. O mais engraçado é que foram destinos exatamente iguais. Passamos no vestibular do curso de jornalismo e direito. Abandonamos o segundo e concluímos o primeiro, ambas já empregadas. Por coincidência, em repetidoras das redes de tevê de maior expressão dos nossos países. Eu, a Rede Globo. Ela, a TV Nacional do Chile.

Sendo assim, saudosa de semelhante época da minha vida, resolvi "xeroxfotocopiar" o exemplo do bem sucedido jornal de bairro. E já que não restaram nem os cinemas, darei minha contribuição aos meus iguais nessa localidade tão "rica" das diversidades culturais como é o bairro de Casa Amarela.

Conto com a sua frequência
Abraço,

Geórgia Alves

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