quarta-feira, 2 de julho de 2008

pequenos gestos

uma pitada de sal
um pouco de pimenta
um jeito de quem agüenta
aquecer a colher num
pequeno cálice
ainda sedenta

Calor que molda
a borda da frigideira
sou tapioca que inventa

Essa massa tão branca
De algum fogo me queima...
Sou um olhar pela janela
A faísca perdida que teima

um raio de sol
o orgulho da brisa
E venta...

o dedilhar discreto
do sentimento secreto
sinfônico-anônimo objeto
teu pouso difícil, com sucesso.

A luz que faltava
O Amor que evitava
O perfil que não constava
A assinatura modificada

Meu nome nunca foi
Isaura

Mesmo longe, sou seu hoje
Se gosta me mostre, sou árvore
E, da minha altura, não sou poste
Ainda que em dedos encoste

Não, não é tu quem sofres
Pela ausência da amada

Lost eu era
Forte? quem dera!
Se ele se esmera
É pedra, eu era...

Hoje sou mais ser
Fera.
Nunca ferida
Sou pessoa querida

Quisera eu mesma
Fizeste um sol
de conta corrente

Nem mesmo o mundo
oval, excelente!
saberia da força
que agora eu sinto
decente

Logo eu, alguém tão crente
Por alguém tão "ausente"

Eu mesma, soubera mais nova
de ser tão semente...

Ao sul ou ao norte
alguém veemente
E bem diferente

Se alguém me seivou
Do vento, o gosto docente

Um dia ainda serei quem eu sou
E não apenas alguém que restou

Carrego alegre
Com orgulho exigente
a história toda na mente

tão rente, e criativa
de quem não complica,
só sente as chances
que tem pela frente

Eu mesma ainda despejo
mensalmente no ventre
as possibilidades de mim:
tão graciosas e inteligentes

Queira ou não
eu mesma sou fera:
por mais que Kundera

Alguém tão somente,
semente de alguém
que sabe, nem sente
Saudades de mim
no futuro presente

E ainda quero teu calor
Meu engenheiro do Amor

Sou pessoa tão solene

Carente de melodias que
mesmo cercada de gente
Fico carente de alegrias

Que sei, são precisas!
Ainda filtro o sentimento
De alguém que evita
revelar o intento
para alguém que medita

Quando alguém vive bem
Esquece do Amor
Reservado para gente

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