domingo, 18 de maio de 2008

A COTOVIA


A virtude ignora o mal e só tem amor pelas coisas dignas e nobres. Como um belo pássaro que escolhe para viver a árvore mais frondosa, assim o coração puro oferece abrigo apenas ao que é honrado.

Eis a seguir uma história que ilustra bem essas palavras.

Havia um ermitão que tinha por única companheira uma cotovia. E, por ser esse hmem um sábio, foi certa vez procurado pelos criados de um nobre, que se encontrava muito mal, já sem esperanças de continuar vivendo.

O eremita atendeu prontamente ao chamado, seguido de perto pela fiel cotovia.

No quarto do enfermo, o clima era de consternação: os quatro médicos ali presentes acabavam de concluir que nada mais restava fazer pelo pobre homem.

Porém, o velho, que acabara de chegar, parado à porta do aposento, observava atentamente sua cotovia, que pousara no peitoril da janela e tinha agora os olhos fixos no doente. Vendo isso, o ermitão finalmente rompeu o silênci, declarando:

- Ele não morrerá.

Espantadíssimos, os doutores não compreendiam como um homem simples como aquele ousava fazer tal prognóstico. Mas a verdade é que, logo em seguida, o enfermo sorriu para o eremita e começou a se recuperar a olhos vistos.

Uma vez curado, o nobre decidiu, passado algum tempo, fazer uma visita ao ermitão, para agradecer-lhe como devia.

Porem o velho não aceitou o agradecimento, dizendo:

- Quem o curou, meu senhor, não fui eu e sim a minha cotovia. Esse pássaro tem uma sensibilidade especial e, quando o colocamos próximo a um doente, ele nos indica quais são suas posssiblidades de vida. Se a cotovia olhar na direção do enfermo, este certamente irá sobreviver. Se, ao contrário, voltar-lhe a cabeça, ele morrerá. A verdade é que com seu olhar esta ave dá início à cura.

Como a cotovia, ou como a luz, que se torna tanto mais intensa quanto maior é a escuridão, também o Amor verdadeiro prefere manifestar-se nos momentos difíceis.


Leonardo Da Vinci

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