domingo, 25 de maio de 2008

Prezado Pablo!


MANHÃ









AQUI está o pão, o vinho, a mesa, a morada:


o ofício do homem, a mulher e a vida:


a este lugar corria a paz vertiginosa,


por esta luz ardeu a comum queimadura.





Honra a tuas duas mãos que voam preparando


os brancos resultados do canto e a cozinha,


salve! a inteireza de teus pés corredores,


viva! a bailarina que baila com a escova.





Aqueles bruscos rios com águas e ameaças,


aquele atormentado pavilhão da espuma,


aqueles incendiários favos e recifes





são hoje este repouso de teu sangue no meu,


este leito estrelado e azul como a noite


esta simplicidade sem fim da ternura.








TARDE





DO MAR para as ruas corre a vaga névoa


como o bafo de um boi enterrado no frio,


e longas línguas de água se acumulam cobrindo


o mês que a nossas vidas prometeu ser celeste.





Adiantado outono, favo silvante de folhas,


quando sobre os povoados palpita teu estandarte


cantam mulheres loucas despindo os rios,


os cavalos relincham para a Patagônia.





Há uma trepadeira vespertina em teu rosto


que cresce silenciosa pelo amor transportada


até as ferraduras crepitantes do céu.





Me inclino sobre o fogo de teu corpo noturno


e não apenas teus seios amo mas o outono


que esparge pela névoa seu sangue ultramarino.





CEM SONETOS DE AMOR

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