quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Amigos bons e questionadores do próprio tempo


Não. Alguns amigos que temos "não são careta", não. Diz um camarada que deixou de ser menino e que tão logo torna-se responsável por um.

O amigo em questão faz parte de um grupo que vem estudando, já há algum tempo, as linguagens utilizadas no cinema. E a chance de fazer parte do grupo está me fazendo avançar muito.

Por exemplo, saber sobre a "chatice" de Deleuze. Quando investiguei o autor entendi apenas a coragem dele escrever sobre o desejo e os movimentos que provoca. Fiquei com o óbvio. Um elogio. Já o amigo-professor do grupo reparou n'outro detalhe. E transmitiu.

Não li o livro ainda, mas a rede me conta que A Imagem-Tempo trata da "necessidade de arrancar dos clichês cinematográficos algo mais que sua verdade aparente". Meus amigos lembram que não é somente isso. Ou que a ênfase não é exatamente assim na "trajetória" a cumprir página por página do livro.

Que "nesta obra, Deleuze propõe uma autêntica reeducação do olhar, à luz dos conceitos filosóficos formulados por Bergson a propósito do movimento, do tempo, da duração e da imagem". Tá, Henri Bergson a gente sabe se interesssou inclusive pelo estudo do riso, ainda em 1900.

E mais, "que Deleuze ancora todas as suas idéias em exemplos concretos, fazendo desfilar diante dos olhos do leitor imagens de clássicos dirigidos por grandes mestres, como Chaplin, Herzog, Antonini, Godard e Visconti". Hum... não é que assim soou até mais interessante!

Isso meus amigos não detalharam. Nem foi preciso. Quem assim fez, como está, em aspas, queria me convercer a comprar o livro. E não apenas a lê-lo.

O mundo melhor enquanto sobram experiências e boas provocações. O bom professor é aquele que permite ao aluno o "espaço" necessário até que surge nele a curiosidade. Quantas vezes fui "tragada" por idéias prontas, como às vezes ainda faço com a nicotina e o alcatrão do cigarro.

Não, não quero mais "fumar" essa e outras idéias. Prefiro absorver alguns fragmentos do pensamento Deleuziano. Por exemplo a compreensão fina que "as imagens que mostram que o cinema é o espaço por excelência para a análise das complexas relações entre passado e presente, memória e acontecimento".

Não. Não precisaram repetir, ontem, para mim, o óbvio (já que estamos nessa e não naquela época) : de que a "câmera funda uma consciência que se define não pelos movimentos que é capaz de captar, mas pelas relações mentais e psicológicas nas quais é capaz de entrar".

E não é só isso. Antes é preciso entender o quanto Deleuze precisou ser chato! Essa noção não é sempre que dá para capturar numa resenha de livro. Seja ela bem ou mal alivanhavada.

Bom, às vezes ser sincero é mesmo apenas ser mais simples: tipo "Ao mesmo tempo livro de filosofia e livro de cinema, A Imagem-Tempo é uma obra fundamental para se compreender que, longe de viver sua decadência, o cinema é uma arte inesgotável". Frase que também registra o sentimento de uma época. Que já foi. Os amigos ficaram.

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