Capital Tbilisi não consegue comportar êxodo de refugiados do conflito.
Pelos últimos três dias, a cama de Marina tem sido uma pilha de palha dentro da carroceria de um caminhão em uma área residencial de Tbilisi, capital da Geórgia.
Ela divide o pequeno espaço com outras 15 mulheres, todas elas refugiadas de Gori, palco do conflito envolvendo a Rússia, Geórgia e Ossétia do Sul, desde a sexta-feira passada.
"Nós deixamos tudo para trás. Três das meninas estão grávidas, mal conseguimos respirar aqui, mas não temos para onde ir", diz ela.
À medida que forças russas ainda avançavam pelo território georgiano na quarta-feira, milhares de pessoas continuavam a fugir para a capital.
É um imenso êxodo que a capital georgiana não tem como comportar. Muitas escolas e jardins de infância da cidade estão repletos de refugiados.
Intimidação
"Minha minivan foi parada por russos com uniforme das forças de paz", contou Koba, em uma escola da capital.
"Eles nos jogaram no chão e depois nos colocaram de volta no carro e enfiaram mais georgianos dentro dele. Três homens armados vieram com a gente. Eles me mandaram dirigir para Tskhinvali".
Koba disse que os captores lhes forçavam a cantar "Eu amo a Ossétia". Ele e outros três homens conseguiram escapar depois de um acidente de carro.
Os depoimentos de muitos dos que fugiram de cidades em torno da Ossétia do Sul são consistentes, mas é difícil verificar todos os relatos de mortes e saques, já que as estradas estão bloqueadas pelos militares russos.
O que se pode constatar é que o desespero, medo e raiva são sentimentos que afloram nessas pessoas.
No hospital infantil de Tbilisi, Dito, de 7 anos, me mostrou as feridas na cabeça e nas costas causadas por um pedaço de projétil.
"A explosão foi muito grande", disse ele. "Minha mãe e meu pai também estão feridos, mas estão em um outro hospital".
No corredor, a tia de Dito me puxou para um canto.
"Ele não sabe ainda, mas seus pais estão mortos", disse ela chorando.
"Sua mãe estava grávida de sete meses".
União nacional
Ela diz também ter raiva porque o governo "está maquiando" o número de mortos.
"O governo diz que apenas 120 pessoas morreram, mas isto não é verdade", diz ela. "Em Gori, eu vi caminhões cheios de corpos sendo levados para hospitais todos os dias. Se muitas pessoas morreram, por que o governo está mentindo?"
Enquanto Nona falava, alguns funcionários do hospital se aproximaram e discordaram dela. Eles argumentaram que o que está acontecendo na Geórgia é culpa do presidente da Rússia e não de Saakashvili.
Muitas pessoas na Geórgia parecem pensar o mesmo. Na terça-feira, dezenas de milhares atenderam ao pedido do presidente para participar de um comício na praça principal da capital.
Na Geórgia, pelo menos por enquanto, a unidade nacional se sobrepõe às diferenças políticas.
Até os mais ferrenhos opositores do presidente colocaram as diferenças políticas de lado e anunciaram seu apoio ao governo.
"Os russos não entendem que quando o ministro das Relações Exteriores da Rússia diz algo contra a Geórgia, ele torna Saakashvili ainda mais poderoso e popular", disse Nini Giorgobiani, advogada e ex-lider de um movimento estudantil.
"Desde que Saakashvili foi eleito, eu tenho discordado com muitas de suas políticas, mas nada do que ele ou o governo georgiano tenham feito pode justificar o que a Rússia está fazendo com o meu país", disse ela.BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
Avião russo ataca equipe da BBC na Geórgia
Apesar do anúncio de cessar-fogo da Geórgia, proposto no último domingo, a Rússia continuou a realizar ataques aéreos na região.Enquanto filmava um bombardeio da Rússia à cidade georgiana de Gori, no domingo à tarde, uma equipe da BBC foi atacada por um avião russo. Três mísseis foram disparados e caíram perto dos veículos da equipe. Ninguém ficou ferido. A cidade de Gori, que fica perto da região da Ossétia do Sul, foi parcialmente destruída por bombardeios russos durante o último fim-de-semana.Segundo a agência de refugiados da ONU, somente em Gori 46 mil pessoas estão sem abrigo.
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