domingo, 10 de agosto de 2008

samba chegou

Casa Amarela tem um mercado. Um sucesso! e muita gente toma café da manhã por lá. Bode com macaxeira. Ou carne guisada com feijão. Bem cedinho, de madrugada ainda...

Casa Amarela tem lugares que se freqüenta por hábito ou mais ainda "pós lei seca"" como a mercearia Nabuco, na esquina da rua com nome do patrono da Assembléia Legislativa com a rua da Harmonia. Além das picanhas na esquina dessa mesma rua com a Estrada do Encanamento.

Casa Amarela tem um movimentado centro comercial onde se vende desde tinta a eletrodomésticos, e importados que viajam do país onde acontece as Olimpíadas até aqui. Também vinis usados, massa de mandioca, flores, panelas e acessórios de cozinha

Tem cartório, vidraçaria, todos os bancos, delegacia, livraria, galerias e lojas daquelas mercadorias que alguém sempre precisa. Tudo por 1,99.

Casa Amarela tem um "sítio". O da Trindade. E um shopping, de mesmo nome, com uma loja especializada em cd's e dvd's da cena local. E uma lavanderia. Talvez mais.


do filme "Recordações da Casa Amarela", JOÃO CÉSAR MONTEIRO


Tudo isso esse aprazível bairro oferece. Locadoras? Não faz muito tempo, eu mesma tinha duas à disposição. Uma delas virou salão de beleza. Mas a outra continua ampliando sua oferta de lançamentos a cada novo fim de semana. Tem gráfica, loja especializada em celular. Tem até uma casa que, suspeito, seja lugar onde as pessoas vão para "renovar" as energias e deixar lá tudo que se compreende como "obsessão", numa rua de nome João Barbalho. Bom. Tudo isso, mais a comodidade de sediar uma das melhores escolas do Recife.

Festa de São João na referida escola é verdadeira jam session com músicos consagrados e que há pouco gravaram seus trabalhos na Europa. Ali estão, na condição de pais corujas ou assumidamente fãs da proposta de festa junina, que celebra ninguém menos que o rei do baião.

Casa Amarela tem tudo isso, e ainda tem loja com especiarias indianas. Incensos, bijouterias, jardins em miniatura, cristais, baguás, e outros facilitadores da circulação do i ching pela casa.

Agora tem também uma loja de vinhos e especiarias gastronômicas importadas com direito a self-service, cafezinho e doces especialmente preparados para o buffet de extremo bom gosto.

Casa Amarela ainda não tem um cinema - e olha que já teve dois: Rivoli e Albatroz - mas isso não deve demorar muito para se resolver de outro jeito... Tem uma mega-loja de produtos para festas e que, embora ainda ruim no atendimento, oferece coisas que - exceto ali - só se encontra na rua das calçadas e arredores, famoso "vuco-vuco" do centro do Recife.

Casa Amarela tem o morro da Conceição, o Alto José Bonifácio e o Alto José do Pinho. E uma das maiores populações de bairro do Recife em menos de dois quilômetros quadrados de área (cerca de 185 hectares).


casa amarela em frente ao Mercado que, supõe-se, deu origem ao nome do bairro


Não sei se sabem mas ganhou esse nome graças a idéia de um português de pintar na cor amarela a própria casa que ficava bem em frente ao terminal do bonde da linha vinda de Olinda e Recife Antigo.

Tudo isso mais uma vizinhança adorável. Já eu, que moro, até então, nesse (repito) aprazível bairro, tenho uma família que quando se junta é de uma afetividade e celebração que merece toda minha atenção, gratidão, Amor e respeito.

Por motivo de celebração do dia dos pais, a casa se enche de tios e primos, tias e primas, avó, bitio e bitia... de um jeito que eu nunca vi por aí. Pelo menos dois violões conectados num amplificador e um cavaquinho! Pandeiro e umas três ou quatro pastas com partituras bem organizadas, além das revistinhas com as cifras das mais variadas correntes musicais.Samba é o gênero preferido dessa turma. De vez enquando rola Beatles ou MPB tipo Ben Jor, Roberto "Velha Guarda" Carlos e Gilberto "que foi-Ministro" Gil. E ninguém abre mão da alegria de tocar uma do Pixinguinha. Elza Soares, Jamelão ou Gonzaguinha. Isso tudo rola depois de uma coleção de saladas, tira-gosto, camarão ao alho e óleo, amendoim, ovo de codorna e bolinho de bacalhau.O almoço é um desfile de lombos, saladas e gratinados do próprio peixe popularizado pelos portugueses - devidamente dessalgado - em posta alta. Uma delícia. A cantoria só é interrompida pelo café com bolo de rolo ou de laranja com cobertura de chocolate. E haja ceder ao pecado da gula. Nem um dos outros pecados, pelo menos nesse dia da semana, tem vez no cantinho da gente em questão. Uma verdadeira "Festa de Babete"!

A verdade é que ninguém, nem os mais tímidos ou comedidos - até racionais ou "menos atrevidos" - resiste a tanta música e celebração do "cantar a vida". Energia renovada para pedir licença e "ir à luta".

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